Lucélia Maciel

Ao entrar na casa deparei-me com algumas rachaduras, o excesso de poeira, as telhas  quebradas, me fez sentir como se a casa fosse eu e eu ali me olhando por dentro. Em  alguns pontos, parte do reboco das paredes estavam no chão, deixando os adobes  expostos, como feridas abertas. Fiquei observando a luz que entrava justamente pelas  frestas, pelas rachaduras e a falta de reboco me fez perceber a solidez dos adobes que  davam sustentação ao teto. Nesse contexto, penso no MAG como uma casa que hospeda  e abriga, uma casa que se abre, ou estar aberta, para quem quer que chega. Mas, também como uma hospitalidade hostil, como traz Derrida, pois ao retornar na casa, me percebi  num espaço que não era o das minhas memórias. Sendo esta, uma hospitalidade com  lacunas que acolhe e desacolhe que é capaz de receber, mas, nem sempre refugia. 

Aparição/ Lume I, II e III É uma série com seis fotografias, não é apenas um olhar  contido num ponto específico. É uma manifestação súbita de um ser que fisicamente não  estava mais ali, mas deixava marcada a sua presença. É o reencontro do meu interior com  o interior de onde eu vim. Ver e sentir a materialidade da fuligem que cobre as paredes  se expandindo até se dispersar por uma brecha, fresta, rachadura, mas enquanto se esvai,  segue deixando seu pigmento por onde passa. Ver a luz refletir por cada um desses  espaços, por onde a fuligem escoara. Em contrapartida, trazendo o clarão vindo da união  de cada lumezinho capaz de deixar visível as paredes que foram perdendo seu reboco com  o passar dos dias. Como um corpo que descama, lambido pelo tempo e deixa à vista suas  fragilidades, mas também toda sua estrutura forte e robusta. Com ele abordo a presença  na ausência, de um tempo cheio de lembranças, fatos, histórias das vivências/existência  do cotidiano da casa fértil de saberes e ensinamentos.