Ao entrar na casa deparei-me com algumas rachaduras, o excesso de poeira, as telhas quebradas, me fez sentir como se a casa fosse eu e eu ali me olhando por dentro. Em alguns pontos, parte do reboco das paredes estavam no chão, deixando os adobes expostos, como feridas abertas. Fiquei observando a luz que entrava justamente pelas frestas, pelas rachaduras e a falta de reboco me fez perceber a solidez dos adobes que davam sustentação ao teto. Nesse contexto, penso no MAG como uma casa que hospeda e abriga, uma casa que se abre, ou estar aberta, para quem quer que chega. Mas, também como uma hospitalidade hostil, como traz Derrida, pois ao retornar na casa, me percebi num espaço que não era o das minhas memórias. Sendo esta, uma hospitalidade com lacunas que acolhe e desacolhe que é capaz de receber, mas, nem sempre refugia.
Aparição/ Lume I, II e III É uma série com seis fotografias, não é apenas um olhar contido num ponto específico. É uma manifestação súbita de um ser que fisicamente não estava mais ali, mas deixava marcada a sua presença. É o reencontro do meu interior com o interior de onde eu vim. Ver e sentir a materialidade da fuligem que cobre as paredes se expandindo até se dispersar por uma brecha, fresta, rachadura, mas enquanto se esvai, segue deixando seu pigmento por onde passa. Ver a luz refletir por cada um desses espaços, por onde a fuligem escoara. Em contrapartida, trazendo o clarão vindo da união de cada lumezinho capaz de deixar visível as paredes que foram perdendo seu reboco com o passar dos dias. Como um corpo que descama, lambido pelo tempo e deixa à vista suas fragilidades, mas também toda sua estrutura forte e robusta. Com ele abordo a presença na ausência, de um tempo cheio de lembranças, fatos, histórias das vivências/existência do cotidiano da casa fértil de saberes e ensinamentos.