Olhar para o acervo do Museu de Arte de Goiânia nos leva a uma direção anterior, passada, que conserva tal qual a um receptáculo de memórias, as obras de artistas predominantemente do século XX. Com os pés plantados no inconsciente pessoal e coletivo, minha pesquisa poética atravessa o conceito de hospitalidade e hostilidade de Derrida, com o verve do trabalho da artista visual Luise Weiss, que compõe o acervo do MAG, a partir da relação entre consciência e inconsciente.
Ao estudar uma proposição conforme minha pesquisa poética para esta exposição, a respeito das questões de lugar, fronteira, estrangeiro, e o eu e o outro na relação de hospitalidade e hostilidade, percebi e assinalo neste projeto, como tais dinâmicas podem ser identificadas também na relação entre consciente e inconsciente, razão e fantasia, sonho e realidade, memória e premonição, pessoal e coletivo.
Desse modo, a escolha da artista Luise Weiss parte de sua produção contemporânea, que aborda o estranhamento entre o passado e o presente a partir da tensão entre memória e esquecimento. Se Weiss trata de uma subjetividade que se desfaz perdida no esquecimento, ainda que registrada no inconsciente, minha proposição é a que o exercício de uma hospitalidade entre a consciência e o inconsciente, possa ser um lugar ativo e prospectivo de criação e feitura do sujeito, sentido próprio da criação contemporânea em arte.
Dessa maneira, proponho poeticamente a criação de cinco trabalhos a partir da dinâmica de hospitalidade do eu nativo consciente, em confronto e acolhimento com o eu inconsciente e entrangeiro, admitindo a própria natureza e idioma de suas imagens simbólicas e arquetípicas, seja dos sonhos, das visões, ou da imaginação, de conteúdos pessoais e coletivos. Propõe-se que a subjetividade se realize justamente a partir da alteridade interna, entre o ego consciente, e o imaginativo, o onírico, o fantástico e o numinoso de um inconsciente que se tornou estrangeiro, para o olhar racional. Prevê-se que as obras sejam realizadas em papel, se valendo possivelmente das técnicas de aquarela, nanquim, giz pastel ou grafite, a partir do registro e da criação poética posterior de sonhos e imaginação ativa.