Em proposta de observar e conhecer o acervo do MAG, busquei procurar um artista que pudesse conversar com os trabalhos que tenho feito em registros cotidianos e vivências das pessoas negras e também periféricas. Em contato com o Acervo, pude conhecer as obras do pintor Waldomiro de Deus, que registra cotidianos e imagens de suas vivências e experiências, buscando sempre em traços simples a representação sincera de sua forma de olhar o mundo.
Por isso, trago uma série de pinturas feitas em tinta acrílica de uma recente pesquisa sobre o Erindilogun, o Jogo de Búzios. Onde começo contando sobre um dos itans da criação do jogo. Nesta série de pinturas registro e retrato os principais personagens desse itan que irá mostrar como Osún teve que usar de todas as suas artimanhas para convencer Orunmila e sucessivamente Esú a ensinar-lhes o oráculo que permitiria a comunicação entre humanos e Orixás.
O Erindilogun, também conhecido como Jogo de Búzios, é um sistema oracular do povo Iorubá trazidos pelos africanos escravizados para o Brasil. Aqui se firmou através das casas de Candomblé criadas em Salvador ainda no século XIX. São usados 16 búzios para que o jogo se firme, e cada jogada resultará em diferentes combinações que será de um à todos os búzios abertos. A abertura do búzio, na maioria das vezes, é indicada pela fissura natural do búzio, sendo a feita pela ação humana, indicação de fechado.
O primeiro retrato é de Osún, principal personagem desse itan, ela é Orixá dos Rios e Cachoeiras e também conhecida por cuidar de mães e bebês para que seus nascimentos possam acontecer saudáveis. No itan Osún é encarregada por Obatalá, para encontrar a pessoa que seria escolhida para iniciar o culto aos Orixás.
O segundo retrato é de Obatalá, Orixá criador do Aiye (Terra) é também aqui neste itan mensageiro dos planos de Olodumaré para a conexão de humanos e Orixás. Este aparece no início do itan saudando e direcionando Osún para realizar os planos de Olodumaré.
O terceiro retrato, é uma cena onde estão Obaluayê, Nanã e Osanyin em ritual iniciando e entregando seus conhecimentos ao novo iniciado aqui representado pela cabeça da galinha d’angola.
O quarto retrato é de Orunmila, Orixá da Sabedoria e do Ifá, Eleripin, testemunha da criação de Olodumaré. Neste itan ele se nega a passar para Osún os conhecimentos do Jogo de Ifá, oráculo manuseado apenas por homens.
O quinto retrato é de Esú, Orixá da Encruzilhadas e Mensageiro, realizador de desejos. Neste itan, Osún clama a Esú para que roube o conhecimento de Ifá de Orunmilá, mas com sua sabedoria e amizade, Esú resolve as coisas ensinando a Osún uma nova forma oracular através dos Búzios.